No Final do Corredor

Victor Frankl, um psiquiatra judeu preso pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial, disse uma vez: “O homem está pronto para suportar qualquer sofrimento e disposto a fazer isso, desde que e enquanto consiga ver no sofrimento um significado”. Frankl usou sua vivência brutal e desumana nos campos de concentração para obter uma compreensão mais profunda de como as pessoas sobrevivem às atrocidades. Com uma observação minuciosa de quem sobrevivia e quem morria, ele estabeleceu que a sobrevivência não se baseava na juventude ou na força física, mas sim na força derivada de um objetivo e da descoberta de significado na vida e na experiência da pessoa.

Encontrar um significado no sofrimento é um método poderoso para nos ajudar a enfrentar as situações mesmo nos momentos mais árduos da nossa vida. No entanto, descobrir o significado não é uma tarefa simples. O sofrimento frequentemente parece ocorrer de forma aleatória, sem sentido e indiscriminadamente, sem absolutamente nenhum tipo de significado, e muito menos um significado positivo ou provido de objetivo. E enquanto estamos no meio da dor e do sofrimento, toda a nossa energia fica voltada para tentar escapar da situação. Durante períodos de tragédia ou de crise aguda, parece impossível refletir sobre qualquer significado possível que esteja por trás do nosso sofrimento. Nessas ocasiões, é pouco o que se pode fazer além de resistir. E é natural considerar nosso sofrimento injusto, enquanto nos perguntamos: “Por que eu???” Felizmente, porém, em períodos de relativo conforto, períodos anteriores ou posteriores a vivências dramáticas de sofrimento, podemos refletir sobre ele, procurando desenvolver uma compreensão de seu significado. E o tempo e esforço que dedicarmos à busca de significado no sofrimento serão largamente recompensados quando golpes nocivos começarem a nos atingir. A busca por significado tem que começar quando tudo está correndo bem.

Em Cuidados Paliativos, onde assistimos a pacientes que morrerão de morte anunciada, o tempo torna-se ainda mais precioso. Essas pessoas dispõem de um período valioso para encontrar o significado de sua vivência, e cabe a nós permitir que “tudo corra bem” enquanto elas se aprofundam nesse processo. Isso quer dizer que é nosso dever impedir que tenham dor, falta de ar, fadiga, diarreia, feridas ou qualquer outro sintoma que desvie sua atenção do processo de busca de significado em sua vida. Cabe a nós permitir que elas compreendam a importância de aprofundar seus vínculos, amenizar seus conflitos e resolver suas questões pessoais enquanto ainda têm condições físicas e emocionais para isso. A busca, é claro, é individual e íntima, mas nosso papel é essencial para que elas se mantenham no caminho.

E, quando a morte estiver mais próxima, e seu corpo já não puder auxiliá-la, ou sua mente insistir em não colaborar, seus significados estarão ali, tão claros e indiscutíveis que não haverá motivos para ter medo. Uma vida com significado é uma vida que faz sentido, em toda sua totalidade. Faz sentido, inclusive, partir. Em paz.