Há alguns dias recebi um e-mail carinhoso de uma mulher muito especial, a começar pelo seu nome incomum: Elfriede. “Fri”, como ela é chamada pelos amigos, recebeu o diagnóstico de câncer de mama metastático em 2010, o que mudou para sempre o rumo de sua vida – e também os rumos do Augenblick, seu “veleiro de estimação”.
O Augenblick começou a permear os sonhos de Elfriede e do marido, Jadyr, há mais de 25 anos, quando adquiriram o projeto para a construção do barco. Os sonhos foram sendo adiados pelos mais diversos motivos, como falta de dinheiro, priorização dos filhos, etc. Até que o diagnóstico de câncer incurável apareceu para obrigá-los a definir um destino para o projeto do veleiro. Como arquivá-lo numa gaveta nem passava pela cabeça dos dois, a saída foi apressar a sua concretização. Elfriede e Jadyr arregaçaram as mangas, levantaram o valor necessário para concluir o projeto e, em junho de 2014, o mar do Guarujá, litoral de SP, tocou pela primeira vez o casco desse veleiro cheio de histórias.
A paixão de Elfriede pelo barco pode ser sentida em cada palavra sua, em seu sorriso, em seus gestos. O Augenblick certamente tem grande responsabilidade na boa evolução que a doença vem apresentando nos últimos 5 anos. Manter um sonho em mente e fazer planos para o futuro é o que move a todos nós, meros mortais, e nos faz seguir em frente. A coragem dela e do marido ao levar a cabo um projeto audacioso e complexo durante o enfrentamento da doença (e de todos os efeitos colaterais que o tratamento agrega) é admirável. Mas o que mais me chamou a atenção nos e-mails que trocamos não foi a sua ousadia, a coragem, a força. O que me encantou em Elfriede foi a preservação da sua doçura. Ela fala do seu oncologista como um grande aliado, e das mulheres (também portadoras de câncer) que conheceu durante esses anos como poderosas parceiras. Ela valoriza os abraços dessas pessoas, percebe seus olhares quando o dia está sendo particularmente difícil, procura palavras de apoio que toquem o coração delas. Elfriede fala do hospital com um carinho e uma gratidão comoventes, tratando-o como uma extensão da sua casa (e do seu veleiro). Diz que o hospital é um grande “pote de vida”. Faz questão de compartilhar com as pessoas essa sua experiência difícil, valorizando o aprendizado único que um diagnóstico de câncer pode proporcionar a quem compreende a finitude da vida de todos nós (sua mãe ensinou que a morte é um momento tão sublime quanto o nascimento, e que ninguém deve estar sozinho nesses momentos). Suas palestras motivacionais são a prova incontestável disso.
Nas palavras carinhosas de Elfriede, eu pude enxergar a profundidade da sua compreensão sobre a vida e as belezas que ela proporciona, independentemente dos obstáculos insistentes deixados pelo caminho. Ela vê a vida como a vida realmente é: uma rota incerta pela qual navegamos do jeito que dá. Mais que isso, Fri tem a percepção clara de que, no final das contas, nós estamos mesmo todos no mesmo barco. Ou, melhor ainda, no mesmo veleiro.
PS: Fri, minha querida, não tenho palavras para agradecer o fato de você permitir que eu compartilhasse sua história. Um grande beijo para você e para o Jadyr!
Para quem quiser saber mais sobre a história e as palestras da Elfriede:
https://www.facebook.com/VeleiroAugenblick?fref=ts




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