No último dia 05/10 o The Economist publicou um relatório com os resultados da análise da qualidade dos cuidados paliativos disponibilizados a pacientes terminais em 80 países do mundo. O relatório analisou a estrutura dos hospitais e a qualidade dos recursos humanos dedicados à área, bem como a disponibilidade do serviço à população.
Não foi surpresa observar que os países mais desenvolvidos ocupam o topo do ranking, entre eles o Reino Unido e Austrália. Preocupante foi a colocação do Brasil, em 42º lugar, uma colocação ruim mesmo para parâmetros da América Latina, onde o Chile, a Argentina, o Uruguai e o Equador foram considerados mais capacitados que nós. O relatório aponta o Brasil como um país onde as políticas em cuidados paliativos ainda estão em fase de estudo e implantação.
Chama a atenção que os países com melhor qualidade de assistência a seus pacientes no fim da vida têm características bastante semelhantes:
- uma política nacional de cuidados paliativos forte e efetivamente implementada
- gastos elevados de recursos públicos em serviços de saúde
- recursos consideráveis dirigidos ao treinamento de profissionais da saúde em cuidados paliativos, tanto médicos generalistas quanto especialistas
- subsídios generosos para redução dos custos para os pacientes
- grande disponibilidade de analgésicos opióides
- grande divulgação pública a respeito dos cuidados paliativos
O relatório também exalta que é possível que países menos abastados implementem uma melhor assistência em cuidados paliativos rapidamente através do poder da inovação e iniciativas individuais. Os maiores exemplos são o Panamá, a Mongólia e Uganda, que têm feito progressos consideráveis em suas políticas relacionadas aos hospices e acesso a opióides.
A receita para cada país é individual, mas as bases essenciais são as mesmas: boas políticas públicas, capacitação profissional e conscientização da população. Embora todos esses passos ainda estejam consideravelmente atrasados em nosso país, é importante reconhecermos os progressos que temos feito, apesar de tantos obstáculos políticos e financeiros nos últimos anos.
O número de serviços dedicados aos cuidados paliativos tem crescido rapidamente, bem como a procura por capacitação na área pelos profissionais da saúde. Temos grupos de discussão sobre o assunto na internet, ligas acadêmicas de combate à dor, literatura brasileira dedicada à área. Nossas políticas públicas, embora ainda insuficientes, já existem, e em muitos locais o acesso fácil a opióides já é uma realidade. Dizer que o Brasil não tem feito nada para cuidar melhor de seus pacientes no fim da vida seria uma grande injustiça, e até uma crueldade com o sem-número de pessoas que têm se dedicado a dar esses primeiros passos na melhoria dos cuidados paliativos no país. Mas ainda há muito o que fazer.
Cuidar de nós mesmos em nossos capítulos finais deveria ser tão importante quanto investir em ter uma vida plena e saudável. Do contrário, teremos belas histórias de vida para contar, mas sem um final feliz.
Acesse o relatório completo no link http://www.economistinsights.com/healthcare/analysis/quality-death-index-2015/multimedia