Hoje me deparei com o texto de Mariane Maciel, publicado no blog vamosfalarsobreoluto.com.br, que tem o título acima. Mariane fala sobre o impacto intenso da perda de alguém que se ama: a morte deixou de ser só para os outros. Ela fala sobre os dias bons e os dias ruins, e sobre o difícil trabalho de enfrentar esses últimos.
No texto dela reconheci as palavras da Madalena*, esposa de um paciente que faleceu há cerca de um ano. Durante a doença, ela foi incansável, manteve a serenidade e soube manter a calma mesmo nos momentos mais complicados. Quando Edgar* se foi, aí sim sua vida ficou pesada. Madalena não conseguia se alimentar, não dormia quase nada, tinha grande dificuldade para se concentrar no trabalho.
Quando ela foi me visitar, cerca de um mês após a partida de Edgar, ela me pareceu outra pessoa. Não era apenas a magreza ou os cabelos mal amarrados. Faltava-lhe esperança. Mesmo quando ela me agradeceu pela ajuda nos últimos dias de vida dele, sua voz era desprovida de emoção. Parecia estar vagando por um mundo paralelo. Pedi que ela procurasse a psicóloga e que voltasse a me ver dali algum tempo, mas no fundo eu achei que ela não voltaria.
Dois meses depois, Madalena apareceu no consultório, já bem melhor, com seu peso normal, tranquila como era quando a conheci. Conversamos um pouco e eu então disse a ela o quanto tinha ficado preocupada em sua última visita. Ela suspirou e sorriu.
“Doutora, eu ainda não estou recuperada daquilo tudo, e provavelmente não vou me recuperar totalmente nunca. Mas o que acontece é que temos dias bons e dias ruins, alguns são mesmo terríveis. No começo, na verdade, todos os dias são terríveis. Depois, alguns ficam apenas ruins. Passa mais um tempo e, de repente, meio sem querer, você tem um dia bom. Você até se diverte! E aí, aos poucos, esses bons dias vão invadindo a sua vida, ficando mais frequentes. Acho que em algum momento não terei mais dias ruins, apenas momentos ruins. E depois mesmo esses não serão tão doloridos. É aí que minha mãe diz que a tristeza vira apenas saudade.”
Abracei Madalena com todo o meu coração. Ela me ensinou, em menos de um minuto, como é que o luto funciona.
*os nomes foram trocados para privacidade dos envolvidos
**leia o texto completo de Mariane Maciel no link:
29 de fevereiro de 2016 às 18:06
Achei essa mensagem linda . Uma delicadeza profunda . Um beijo e obrigada por compartilhar conosco , emoções verdadeiras 🌹❤️💞
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29 de fevereiro de 2016 às 20:20
Obrigada, Nubia! Fico feliz por suas palavras! Um grande abraço!
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23 de maio de 2016 às 11:07
Dra. Ana Coradazzi quanta sensibilidade! doçura e fortaleza nos seus textos. Dá pra sentir o seu pulsar só de ler! Estou encantada com seu blog. Abraço
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29 de maio de 2016 às 15:31
Muito obrigada pelas palavras, Cynthia! Escrever é uma grande terapia para mim, um aprendizado diário! Beijo!
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