*tradução livre do texto de JOHN PAVLOVITZ*, publicado em seu blog em 21 de fevereiro de 2019.
“No mesmo dia em que meu pai morreu, eu estava no mercado comprando bananas. Eu me lembro de pensar comigo mesmo, “Isso é loucura. Seu pai acabou de morrer. Por que diabos você está comprando bananas?”. Mas nós precisávamos de bananas. Nós acordaríamos no dia seguinte para tomar café da manhã, e não haveria nenhuma banana – então, lá estava eu.
E muitas outras coisas ainda precisavam ser feitas também, então nos dias que se seguiram eu procuraria vagas para estacionar, esperaria em filas de restaurantes, e me sentaria em bancos de parques; contendo as lágrimas, lutando para permanecer firme, e quase sempre estando a segundos do total e absoluto descontrole. Eu queria colocar uma placa no peito dizendo: EU ACABEI DE PERDER MEU PAI. POR FAVOR PEGUE LEVE.
A não ser que alguém mirasse profundamente em meus olhos vermelhos ou notasse as ocasionais falhas na minha voz e se importasse o suficiente para perguntar, dificilmente alguém saberia o que se passava dentro de mim. Ninguém faria a menor ideia do ralo que tinha acabado de se abrir, engolindo a vida normal do cara à sua frente. Eu não queria expor minha situação estampada no peito, as pessoas ao meu redor poderiam começar a me dar espaço, falar mais delicadamente ou se mover com mais cuidado – e isso poderia ter feito tudo mais suportável.
Todos ao seu redor; as pessoas com você na fila do mercado, no trânsito, sentadas ao seu lado no trabalho, conversando nas mídias sociais, ou sentadas à mesa da cozinha – estão vivenciando os efeitos colaterais do viver. Todos estão sofrendo luto por alguém, perdendo alguém, preocupados com alguém. Seus casamentos estão desabando ou o pagamento da hipoteca está atrasado ou estão esperando o resultado de exames dos seus filhos, ou estão comprando bananas cinco anos depois de uma morte e ainda precisam conter as lágrimas, porque a perda lhes parece tão real quanto no primeiro dia. Cada ser humano com quem você cruza hoje está lutando para encontrar paz e controlar o medo; para cumprir suas tarefas diárias sem descompensar em frente às bananas ou na fila do transporte ou no correio.
Talvez eles não estejam lamentando a morte súbita ou trágica de um pai, mas pessoas feridas, exaustas ou devastadas pela dor estão em todos os lugares, todos os dias, tropeçando em nós – e na maior parte do tempo estamos completamente alheios a isso:
Pais cujos filhos têm doenças terminais.
Casais no meio de um divórcio.
Pessoas vivenciando o luto de parentes e amigos.
Crianças sofrendo bullying na escola.
Adolescentes que desejam interromper suas vidas.
Pessoas experimentando o aniversário de uma morte.
Pais preocupados com seu filho adolescente em depressão.
Esposas cujos parceiros foram enviados para uma guerra.
Famílias sem a menor ideia de como manter as luzes acesas.
Pais solteiros quase sem nenhuma ajuda e pouquíssimas horas de sono.
Todos estão de luto e preocupados e com medo, e nenhum deles mostra os sinais, ou exibem rótulos explicativos, e nenhum deles carrega placas onde se lê: ESTÁ DIFÍCIL PRA MIM. PEGUE LEVE. E como eles não nos dão essas dicas, cabe a mim e a você olhar com mais cuidado e mais profundamente para cada um ao nosso redor: no trabalho ou no posto de gasolina ou no mercado, e nunca assumir que eles não estão por um fio. Porque a maior parte das pessoas ESTÁ por um fio – e uma simples gentileza de nossa parte pode ser esse fio. Precisamos lembrar a nós mesmos o quanto as histórias secretas em torno de nós podem ser difíceis, e abordar cada pessoa como um tesouro delicado, frágil e sem preço – e lidar com elas com zelo.
Enquanto você estiver seguindo seu caminho pelo mundo hoje, as pessoas não estarão exibindo sinais para anunciar sua dor ou alertar você sobre seu desgaste, ou para transmitir ao mundo o quanto aterrorizadas elas estão – mas se você olhar com os olhos certos, conseguirá enxergar os sinais. Há pessoas sofrendo ao seu redor. Pegue leve.”
7 de março de 2019 às 20:44
Sempre inspiradores seus posts… gratidão por mais este !
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8 de março de 2019 às 14:58
Ana Lucia, mais uma vez, muito obrigada pelo seu texto, por nos lembrar das dores alheias, que são tantas e múltiplas, como as nossas. Um abraço com admiração e carinho.
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9 de março de 2019 às 09:41
Eu é que agradeço as palavras carinhosas! Muita luz pra vc!
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9 de março de 2019 às 19:21
Parabéns minha nobre colega,pela delicadeza,sensibilidade e profundidade de suas publicações. .Continuem nesse belíssimo trabalho de despertamento do ser humano,para que possamos dar o que temos de melhor em nós.
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