
Sofrimento alheio não se mensura. Não há como medir o que não faz parte da nossa realidade. Sofrimento alheio é assim: ele é o que o outro acha que é. Tem sofrimento que não cabe no coração. Dor profunda, complicada, de um tempo que nem sabemos quando foi. Dor alienígena, que não nos cabe entender. Às vezes o que nos cabe, humildemente, é aceitar, do jeito que vier, banindo a imensa vontade de consertar o que não pode ser consertado.
Mas como é que a gente faz quando o sofrer nos salta aos olhos, quando nosso desejo de ajudar nos ilude e nos faz ver um caminho de alívio que ninguém mais viu? Para quem cuida, quem sofre junto, para quem fica ao lado, “aceitar” pode ser tortura. Ninguém quer ver o outro sofrer. As mãos se retorcem para tomar alguma atitude. Coração apertado, acelerando no peito, impelindo a garganta para que fale alguma coisa – qualquer coisa – que ajude a passar o sofrimento. E, esquecendo que não dá pra mensurar o sofrimento alheio, nos vemos mergulhando de cabeça numa dor que não é nossa. Descobrimos, às vezes tarde demais, que o sofrer era mais fundo que o oceano, e que nosso mergulho só fez esparramar a água salgada…
Lidar com quem sofre é um risco constante. É andar na corda bamba, é brincar de roleta russa. Não tem sofrer igual ao outro, não há dor igual à sua, não há medo como o dele. Às vezes, só nos sobra uma oração que lhes conforte o coração. Às vezes, só resta nosso coração sozinho, batendo descompassado.




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