No Final do Corredor

histórias, experiências e lições de vida

12 de novembro de 2015
Ana Lucia Coradazzi

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A viuvez é interminável

LutoHá alguns dias um artigo do Washington Post revelava a história de Lisa Kolb, uma escritora que perdeu seu marido de 34 anos numa avalanche. O texto fala da solidão intensa e frustrante que ela sentia no segundo ano após a morte do marido Erik. Num dos parágrafos, ela diz: “O primeiro ano de viuvez, quando o luto é óbvio e feio e áspero, temos todo o suporte e atenção. Mas o segundo ano é tão duro quanto o primeiro, mas é muito mais solitário.”

Lisa fala sobre o grande suporte que os viúvos recebem logo após a morte do cônjuge, com telefonemas frequentes, mensagens, demonstrações de afeto, que desaparecem quase que completamente após o primeiro ano, deixando a sensação de solidão e inadequação com a nova vida dali em diante.

Historicamente, o luto era um período determinado de tempo (em geral um ano) no qual o viúvo (a) teria o direito de chorar e expressar sua tristeza, e após o qual estaria plenamente recuperado, pronto para conduzir novamente sua vida. Mas, como se mede a quantidade ideal de tempo que uma pessoa precisa para estar em condições de retomar sua vida? Qual a fórmula que revela esse tempo? É claro, isso não existe.

A morte de um cônjuge tem um impacto absolutamente único para cada pessoa, podendo variar de uma tristeza interminável, que a acompanhará até seu último dia de vida, até um tremendo alívio. Tudo depende da forma como o casal se relacionava, suas crenças, seus hábitos, suas lembranças, seu legado. Depende dos sonhos que ambos alimentavam, e do quão importantes esses sonhos eram para aquele que sobreviveu. Depende do quanto o viúvo (a) entrelaçava sua própria felicidade à do cônjuge falecido.

O fato é que a experiência da viuvez é tão única quanto a própria morte. O suporte dos amigos e familiares, portanto, também deve ser “personalizado”, e é importante fugirmos das determinações padronizadas pela sociedade se quisermos realmente promover o alívio dessa dor. Não há período certo para a solidão acabar, não há intensidade certa para o choro, não há medida certa para a saudade. Só há o sentimento único experimentado por aquela pessoa, e que deve ser tratado com a mesma delicadeza com que tratamos nossos doentes, nossos bebês, nossas crianças. Um viúvo pode ser tão frágil quanto eles, e sua fragilidade não tem hora para acabar.

 

 

5 comentários sobre “A viuvez é interminável

  1. Nunca tinha pensado nisso. De fato o segundo ano deve ser mesmo muito difícil. Minha mãe ficou viúva muito nova,com três filhos pra criar, um de 12 anos, uma de 6 anos e uma de 2 anos. Eu sou a de 6 anos e me lembro até hoje da minha mãe chorando escondido, baixinho, pra ninguém perceber. Lembro também da solidão e do silêncio na nossa casa. São memórias que só um texto assim, trazem de volta.

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  2. já se passaram dois anos e meio de minha viuvez, até hoje mesmo mostrando a todos que estou bem, ainda choro sozinha.. me sinto perdida as vezes, parece que um pedaço de mim foi junto. tenho 33 anos, um filho lindo de 8, namoro, tento seguir em frente, mas a ausência do meu esposo é muito forte.

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