Há alguns dias um artigo do Washington Post revelava a história de Lisa Kolb, uma escritora que perdeu seu marido de 34 anos numa avalanche. O texto fala da solidão intensa e frustrante que ela sentia no segundo ano após a morte do marido Erik. Num dos parágrafos, ela diz: “O primeiro ano de viuvez, quando o luto é óbvio e feio e áspero, temos todo o suporte e atenção. Mas o segundo ano é tão duro quanto o primeiro, mas é muito mais solitário.”
Lisa fala sobre o grande suporte que os viúvos recebem logo após a morte do cônjuge, com telefonemas frequentes, mensagens, demonstrações de afeto, que desaparecem quase que completamente após o primeiro ano, deixando a sensação de solidão e inadequação com a nova vida dali em diante.
Historicamente, o luto era um período determinado de tempo (em geral um ano) no qual o viúvo (a) teria o direito de chorar e expressar sua tristeza, e após o qual estaria plenamente recuperado, pronto para conduzir novamente sua vida. Mas, como se mede a quantidade ideal de tempo que uma pessoa precisa para estar em condições de retomar sua vida? Qual a fórmula que revela esse tempo? É claro, isso não existe.
A morte de um cônjuge tem um impacto absolutamente único para cada pessoa, podendo variar de uma tristeza interminável, que a acompanhará até seu último dia de vida, até um tremendo alívio. Tudo depende da forma como o casal se relacionava, suas crenças, seus hábitos, suas lembranças, seu legado. Depende dos sonhos que ambos alimentavam, e do quão importantes esses sonhos eram para aquele que sobreviveu. Depende do quanto o viúvo (a) entrelaçava sua própria felicidade à do cônjuge falecido.
O fato é que a experiência da viuvez é tão única quanto a própria morte. O suporte dos amigos e familiares, portanto, também deve ser “personalizado”, e é importante fugirmos das determinações padronizadas pela sociedade se quisermos realmente promover o alívio dessa dor. Não há período certo para a solidão acabar, não há intensidade certa para o choro, não há medida certa para a saudade. Só há o sentimento único experimentado por aquela pessoa, e que deve ser tratado com a mesma delicadeza com que tratamos nossos doentes, nossos bebês, nossas crianças. Um viúvo pode ser tão frágil quanto eles, e sua fragilidade não tem hora para acabar.




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