Muitas vezes, olhando para colegas médicos recém-formados, esforçando-se durante os anos de residência, com toda a sua jovialidade, as incertezas, a coragem, os medos, fico pensando em coisas que eu gostaria de dizer a eles. Coisas que pudessem tornar seu caminho mais rico e sua vida mais produtiva. Da mesma forma como eu gostaria de poder guiar os passos das minhas filhas, me vem sempre a vontade de mostrar a eles as sutilezas que só os anos de prática médica nos permitem perceber. E, apesar da vontade, muitas vezes me faltam as palavras certas. Como resumir em algumas frases as experiências tão complexas pelas quais passamos no dia-a-dia com os pacientes? Como permitir que eles vislumbrem a beleza que se descobre nas mãos de um médico, quando ele compreende a magnitude e a sacralidade da sua profissão?
E aí me deparo com uma publicação do Pallimed, de poucos dias atrás, na qual eles perguntaram a médicos renomados especialistas em Cuidados Paliativos quais os conselhos que eles dariam a seus graduandos. O resultado foram as pérolas traduzidas abaixo. Acho que não preciso mais procurar as palavras certas: estão todas aqui.
“Deixe que os objetivos dos pacientes e de seus familiares sejam seu guia. Você se envolverá – e deve fazer isso – em discussões sobre o planejamento da alta, aspectos financeiros e sociais, estatísticas sobre mortalidade e hospices, mas seu norte deve continuar sendo os objetivos do seu paciente e da família dele.” (Ross Albert, MD PhD)
“Continue amando seus pacientes até o final; eles merecem isso, e você também merece.”(Rafael Bloise, MD)
“Mantenha a prática dos cuidados paliativos. Não permita que interesses científicos, administrativos ou financeiros destruam suas habilidades clínicas e a base ética de toda a sua carreira, seus pacientes e familiares”. (Eduardo Bruera, MD)
“Em medicina paliativa nós nos tornamos especialistas em um paciente e uma família de cada vez; continue aprendendo, mantenha seu coração aberto, e lembre-se de respirar.”(Ira Byock, MD)
“Ouça seus pacientes, eles têm as respostas.”(Jim Cleary, MD)
“Mantenha você mesmo, suas ideias e a visão que os outros têm de você fora do caminho. Descubra sua voz verdadeira e use-a.”(Michael Fratkin, MD
“Seja gentil.”(Sonia Fullerton, MD)
“Lembre-se de parar e perguntar a si mesmo ‘Qual é minha intenção?’ antes de ver cada paciente.”(Robert Gerard, MD)
“Lembre-se dos médicos de antigamente, aqueles que não tinham antibióticos, morfina, e todos os outros medicamentos modernos e aparelhos, aqueles sentados ao lado dos leitos, mãos dadas com o paciente, escutando. Lembre-se deles por serem médicos verdadeiros, que estavam presentes e dividiam as angústias do sofrimento, e entendiam quando a magnitude dos medos era grande demais para ser carregada sozinho; espelhe-se neles, e você ficará bem.”(Paul Rousseau, MD)
“Ache tempo para conversar com seus professores e para fazer atividades profissionais que estimulem a sua curiosidade. Isso são presentes que você dá a si mesmo.”(Holly Yang, MD)
“Mantenha-se em íntimo contato com seus colegas para discutir casos, dividir novas ideias e informações, não atuando no meio do vácuo, e sempre oferecendo suporte emocional quando as coisas não estão indo bem. Isso é mais importante do que nunca, pois às vezes ficamos muito isolados.”(Dan Zacharias, MD)
6 de julho de 2016 às 00:31
Eu estou no final do corredor. Mas encontrei aqui o oposto do que imaginava. Encontrei a calma que eu não tinha quando ainda havia chance de cura. Estranho? Talvez. Mas apoiada pelas pessoas que mais amo, em todas as decisões que eu tomo e pelos médicos que por alguma razão decidiram me amar e me proteger até o fim, eu posso garantir que o final do corredor pode ser um lugar onde cabem ainda muitas alegrias! Li seu livro, dra. Ana Lucia. E ele está passando de mão em mão entre oseus familiares rs… vai ajuda-los a me ajudarem ainda mais. Muito obrigada!!!
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7 de julho de 2016 às 16:59
Claudia, eu é que tenho que agradecer (e muito) pelas suas palavras, que só engrandecem e ajudam as pessoas que enfrentam situações como a sua. Essa “calma” diante da própria terminalidade só é possível quando temos uma compreensão real da nossa própria realidade e contamos com apoio irrestrito daqueles que nos cercam. Um grande e carinhoso abraço!
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